Retirado de MARCEL MAUSS OU A DÁDIVA DE SI, Marcel Fournier
Para Mauss, a importância de sua
descoberta é tal que não é suficiente constatar o fato, é preciso também tirar
conclusões morais. Voltemos ao "arcaico", reinventemos
costumes de "despesas nobres", reencontremos a "felicidade de
dar em público; o prazer do gasto artístico generoso, aquele da hospitalidade e
da festa privada e pública". Rejeitando igualmente o "egoísmo de
nossos comtemporâneos e o individualismo de nossas leis" e o "excesso
de generosidade e o comunismo", Mauss defende uma "nova moral"
baseada no respeito mútuo e na generosidade recíproca e que assegure a
redistribuição da riqueza acumulada: está aí, pensa ele, a condição da
felicidade dos indivíduos e dos povos. O respeito aos princípios de honra,
desinteresse e solidariedade é, como preconizado por Durkheim, possível e
desejável no nível dos grupos profissionais. E também possível conceber o que
seria uma sociedade onde reinassem tais princípios: adoção de legislação de
seguro social (contra o desemprego, a doença, a velhice), criação de caixas de
assistência social pelas empresas, estabelecimento de medidas para limitar os
frutos da especulação e da usura, desenvolvimento da solidariedade corporativa.
Aqui etnografia e política se encontram.
Por ocasião do lançamento do
"Ensaio sobre a dádiva", Mauss prepara para a PUF uma obra sobre o
bolchevismo, obra que ficará inacabada. Acaba de publicar no Le
Populaire suas "Observações sobre a violência", cujo
subtítulo é "Fascismo e bolchevismo".
A "Apreciação sociológica do
socialismo" inclui importantes "conclusões práticas": quem quer
"refoil-nar" uma sociedade deve: 1) respeitar a "a troca como
natureza do homem" e preservar o mercado e a liberdade comercial e
industrial que o acompanha; 2) deve também manterum equilíbrio entre
coletivismo e vida associativa, desenvolvendo todas as instituições coletivas
possíveis de tipo intermediário, como grupos profissionais e cooperativas: 3)
deve enfim evitar se iludir e acreditar que podemos "suprimir todas as
formas de propriedade para substituí-las por uma só", pois não há
sociedades exclusivamente capitalistas ou puramente socialistas. Os
"possíveis" situam-se nas economias mistas, com capitalismo,
socialismo, coletividades livres e individualismo. Como bom durkheimiano, Mauss
adverte que a liberdade e o controle coletivo não são contraditórios.
Correndo o risco de "passar por
antigo e repetidor de lugares comuns", Mauss volta aos antigos conceitos
gregos e latinos de "caridade", "amizade" e
"comunidade": nisso está, conclui ele, "a essência da Cidade".
A moral que ele propõe é uma moral de "doçura e legalismo". Ademais,
está consciente de que prega muito generosamente a "doçura, a paz, a
previdência". Mauss deseja que a Política se torne "positiva", que
ela seja uma "arte racional”. Como "meio de tornar os homens mais
felizes", mas ela pode fornecer uma "consciência precisa dos
fatos" e constituir um "meio de educação da sociedade".
Em 1939, novamente a
guerra. Com o nazismo e o anti-semitismo. O sociólogo vê a confirmação, pelo
pior, de certas teses durkheimianas: o "retorno ao primitivo" e a
valorização excessiva do coletivo constituem de fato graves perigos.