Baseado em:
MAUSS, M. 1974 [1923 - 24]. Ensaio sobre a Dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. In: Sociologia e Antropologia. v.II. São Paulo: Edusp.

Comentários sobre a conclusão de sociologia geral e de moral



Retirado de MARCEL MAUSS OU A DÁDIVA DE SI,  Marcel Fournier

Para Mauss, a importância de sua descoberta é tal que não é suficiente constatar o fato, é preciso também tirar conclusões morais. Voltemos ao "arcaico", reinventemos costumes de "despesas nobres", reencontremos a "felicidade de dar em público; o prazer do gasto artístico generoso, aquele da hospitalidade e da festa privada e pública". Rejeitando igualmente o "egoísmo de nossos comtemporâneos e o individualismo de nossas leis" e o "excesso de generosidade e o comunismo", Mauss defende uma "nova moral" baseada no respeito mútuo e na generosidade recíproca e que assegure a redistribuição da riqueza acumulada: está aí, pensa ele, a condição da felicidade dos indivíduos e dos povos. O respeito aos princípios de honra, desinteresse e solidariedade é, como preconizado por Durkheim, possível e desejável no nível dos grupos profissionais. E também possível conceber o que seria uma sociedade onde reinassem tais princípios: adoção de legislação de seguro social (contra o desemprego, a doença, a velhice), criação de caixas de assistência social pelas empresas, estabelecimento de medidas para limitar os frutos da especulação e da usura, desenvolvimento da solidariedade corporativa. Aqui etnografia e política se encontram.
Por ocasião do lançamento do "Ensaio sobre a dádiva", Mauss prepara para a PUF uma obra sobre o bolchevismo, obra que ficará inacabada. Acaba de publicar no Le Populaire suas "Observações sobre a violência", cujo subtítulo é "Fascismo e bolchevismo".
A "Apreciação sociológica do socialismo" inclui importantes "conclusões práticas": quem quer "refoil-nar" uma sociedade deve: 1) respeitar a "a troca como natureza do homem" e preservar o mercado e a liberdade comercial e industrial que o acompanha; 2) deve também manterum equilíbrio entre coletivismo e vida associativa, desenvolvendo todas as instituições coletivas possíveis de tipo intermediário, como grupos profissionais e cooperativas: 3) deve enfim evitar se iludir e acreditar que podemos "suprimir todas as formas de propriedade para substituí-las por uma só", pois não há sociedades exclusivamente capitalistas ou puramente socialistas. Os "possíveis" situam-se nas economias mistas, com capitalismo, socialismo, coletividades livres e individualismo. Como bom durkheimiano, Mauss adverte que a liberdade e o controle coletivo não são contraditórios.
Correndo o risco de "passar por antigo e repetidor de lugares comuns", Mauss volta aos antigos conceitos gregos e latinos de "caridade", "amizade" e "comunidade": nisso está, conclui ele, "a essência da Cidade". A moral que ele propõe é uma moral de "doçura e legalismo". Ademais, está consciente de que prega muito generosamente a "doçura, a paz, a previdência". Mauss deseja que a Política se torne "positiva", que ela seja uma "arte racional”. Como "meio de tornar os homens mais felizes", mas ela pode fornecer uma "consciência precisa dos fatos" e constituir um "meio de educação da sociedade".
Em 1939, novamente a guerra. Com o nazismo e o anti-semitismo. O sociólogo vê a confirmação, pelo pior, de certas teses durkheimianas: o "retorno ao primitivo" e a valorização excessiva do coletivo constituem de fato graves perigos.