Baseado em:
MAUSS, M. 1974 [1923 - 24]. Ensaio sobre a Dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. In: Sociologia e Antropologia. v.II. São Paulo: Edusp.

Marcel Mauss


Pai da  etnografia francesa, Marcel Mauss exerceu profunda influência sobre as ciências humanas e sociais e deixou um legado intelectual incrivelmente rico. Automaticamente ele é associado ao seu tio Émile Durkheim.
Nascido em 1872 numa família de comerciantes e rabinos em Epinal, Mauss estudou filosofia em Bordéus com Durkheim. Após ser aprovado no agregátion (prova de habilitação como professor) em filosofia em 1895, renunciou a carreira de professor secundário garantida pelo título e voltou à atenção para a sociologia da religião. Durante os estudos na École Pratique dês Hautes Études e uma viagem á Holanda e á Inglaterra, construiu uma sólida base em filologia, historia das religiões e etnologia. Mauss também foi politicamente ativo desde os anos de universidade, tendo apoiado Dreyfus e os socialistas. Trabalhou no Mouvement Social e participou da fundação da nova Societé de Librairie ET d’ Édition, com Lucien Herr e Charles Andler. Depois de se tornar professor universitário, Mauss trabalhou no movimento cooperativo e no Partido Socialista e publicou inúmeros artigos no L' Humanité, de que também foi um dos fundadores.

Seu primeiro livro importante foi publicado em colaboração com o colega e amigo Henri Hubert, sob o título Essai Sus La nature et la fonction du sacrifice ( Sobre o sacrifício). O ensaio foi publicado no L’Ánnée sociologique, fundado por Durkheim em 1898: encarregado na seção de sociologia religiosa, Mauss foi um dos seus principais colaboradores. Na École Pratique dês Hautes Études, onde sucedeu a Leon Marillier em 1901, foi responsável pelo ensino de história da religião dos povos primitivos. No geral, comparativa e comprovada por dados empíricos detalhados, a pesquisa de Mauss foi definida como um programa que tinha por tema a expressão ritual da vida religiosa e por objetivo o desenvolvimento de uma teoria do sagrado. Sua obra rapidamente ultrapassou as fronteiras da sociologia da religião para chegar á teoria do conhecimento, como se depreende do ensaio escrito com Durkheim, intitulado Classification Primitive. Relativamente á sociologia, os seguidores de Durkheim logo observaram que ela era uma psicologia coletiva com o objetivo de estudar a representação coletiva.

Num texto intitulado  ‘’ Sociologie’’, com a colaboração de Paul Fauconnet, em 1901, para La Grande Encyclopédie, ele destacou o aspecto psicológico da visa social, das crenças e sentimentos comunitários. ‘’ o centro mesmo da vida social é uma coleção de representações’’, disse ele, acrescentando que, ‘’neste sentido então, pode-se dizer que a sociologia é uma espécie de psicologia’’. Claramente, ele queria dizer uma psicologia diferente da individual. Com Henri Hubert, Mauss publicou em L´Ánne sociologique de 1902 o importante ensaio Esquisse dúne theórie générale de la magie, demonstrando que aqui as leis da psicologia coletiva transgridem as leias da psicologia individual: ‘’É uma crena que cria o mágico... e os efeitos que ele desencadeia’’, escreveram. O uso do conceito de mana como uma idéia de magia, alimentou uma longa controvérsia.


Mauss foi voluntário e serviu como intérprete durante a Primeira Guerra Mundial, oq eu resultou, direta e indiretamente, nas mortes trágicas de Durkheim e seu filho André, além de vários colaboradores do L’Année sociologique. Após a guerra, Mauss assumiu a difícil tarefa  de substituir o tio. Tentou relançar L’ Année sociologique, mas só foram lançados dois volumes, em 1925 e 1927. Ele também manteve sua intensa atividade política, assumindo a ediçãoi de uma importante obra sobre o estado e, depois de publicar suas ‘’ Observations sur La violence’’ em Vie socialiste, planejou um livro sobre o bolchevismo. Então incentivado pelo exotismo quie atraía um grande publico para a etnologia, Mauss trabalhou com Lucien Lévi-Bruhl e Paul Rivet para fundar em 1923 o Instituro de Etnologia em Paris. O instituto atraiu muitos estudantes e pesquisadores, que lideraram muitos estudos de campos, particularmente na África, e organizaram as primeiras expedições etnológicas importantes.
Homem de enorme curiosidade intelectual e excepcional erudição, Mauss conduziu pesquisas em muitas áreas: da magia á técnica corporal, passando pela idéia do indivíduo, ele retificou a atitude antipsicológica do tio, estabelecendo relações reais e práticas entre a psicologia e a sociologia num artigo que publicou em 1924 no Journal de psichologie. No ano seguinte ele publicou numa série de  L’ Année sociologique o seu Ensaio sobre a Dádiva.
O sobrinho de Durkheim nunca havia se interessado tanto pela obra sod psicólogos, e participou de projetos da Sociaedade de Psicologia, tornando-se seu presidente em 1923. ‘’ Sociologia, psicologia, filosofia, devem todas se combinar’’, escreveu Mauss. A intenção era tomar como tema  ‘’o ser humano inteiro e real’’ e analisar ‘’ o fenômeno como um todo’’. Em 1936, mais uma vez no  Journal de psychologie,  ele publicou  um estudo sobre o ‘’ Efeito físico no individuo da idéia da morte sugerida pela comunidade’’. Confusão mental, inibições, delírios e alucinações foram todos os fenômenos pelos quais Mauss se interessou vivamente, mas que, ao contrário da opinião dos psicólogos, ele não viu como sintomas patológicos.
Marcel Mauss foi eleito membro do Collége de France em 1930 e tornou-se chefe de sociologia. Entre os textos que publicou durante esse período, estão ‘’Técnicas corporais’’, publicado em 1934 no  Journal de psychologie.e um ensaio sobre o eu no no  Journal of the Royal Anthropological Institute. Em 1941, fez sua última apresentação acadêmica, que consistiu no ensaio ‘’ Les techiniques et la technologie’’. Marcel Mauss moreeu no dia 11 de fevereiro de 1950, aos 67 anos. Muitos de seus textos publicados como ensaios foram loligidos por Claude Lévi- Strauss em 1950 e publicados sobre o título  Sociologie e anthropologie (Sociologia e antropologia) , e amis tarde, em 1969, Victor Karady publicou três volumes intitulados em 1997.  A obra política de Mauss consiste de um vasto número de reflexões em que ele combinou e expressou, como reconheceu ele próprio, o fervor do intelectual e do político. No final de A dádiva, ele já não tinha dúvidas quanto a importância dos antigos valores morais, como a caridade, e propôs uma moralidade baseada na solidariedade e reciprocidade.






Fonte:
 Scott, John (organizador). 50 Sociólogos fundamentais. São Paulo : Contexto, 2007.