Pai da etnografia
francesa, Marcel Mauss exerceu profunda influência sobre as ciências humanas e
sociais e deixou um legado intelectual incrivelmente rico. Automaticamente ele
é associado ao seu tio Émile Durkheim.
Nascido em 1872 numa família de comerciantes e rabinos em
Epinal, Mauss estudou filosofia em Bordéus com Durkheim. Após ser aprovado no agregátion (prova de habilitação como
professor) em filosofia em 1895, renunciou a carreira de professor secundário
garantida pelo título e voltou à atenção para a sociologia da religião. Durante
os estudos na École Pratique dês Hautes Études e uma viagem á Holanda e á Inglaterra,
construiu uma sólida base em filologia, historia das religiões e etnologia. Mauss
também foi politicamente ativo desde os anos de universidade, tendo apoiado
Dreyfus e os socialistas. Trabalhou no Mouvement Social e participou da
fundação da nova Societé de Librairie ET d’ Édition, com Lucien Herr e Charles
Andler. Depois de se tornar professor universitário, Mauss trabalhou no movimento
cooperativo e no Partido Socialista e publicou inúmeros artigos no L' Humanité, de
que também foi um dos fundadores.
Seu primeiro livro importante foi publicado em colaboração
com o colega e amigo Henri Hubert, sob o título Essai Sus La nature et la fonction du sacrifice ( Sobre o
sacrifício). O ensaio foi publicado no L’Ánnée
sociologique, fundado por Durkheim em 1898: encarregado na seção de
sociologia religiosa, Mauss foi um dos seus principais colaboradores. Na École
Pratique dês Hautes Études, onde
sucedeu a Leon Marillier em 1901, foi responsável pelo ensino de história da
religião dos povos primitivos. No geral, comparativa e comprovada por dados empíricos
detalhados, a pesquisa de Mauss foi definida como um programa que tinha por
tema a expressão ritual da vida religiosa e por objetivo o desenvolvimento de
uma teoria do sagrado. Sua obra rapidamente ultrapassou as fronteiras da
sociologia da religião para chegar á teoria do conhecimento, como se depreende
do ensaio escrito com Durkheim, intitulado Classification Primitive. Relativamente
á sociologia, os seguidores de Durkheim logo observaram que ela era uma
psicologia coletiva com o objetivo de estudar a representação coletiva.
Fonte:
Scott, John (organizador). 50 Sociólogos fundamentais. São Paulo : Contexto, 2007.
Num texto intitulado ‘’
Sociologie’’, com a colaboração de Paul Fauconnet, em 1901, para La Grande Encyclopédie, ele destacou o
aspecto psicológico da visa social, das crenças e sentimentos comunitários. ‘’
o centro mesmo da vida social é uma coleção de representações’’, disse ele,
acrescentando que, ‘’neste sentido então, pode-se dizer que a sociologia é uma
espécie de psicologia’’. Claramente, ele queria dizer uma psicologia diferente
da individual. Com Henri Hubert, Mauss publicou em L´Ánne sociologique de 1902 o importante ensaio Esquisse dúne theórie générale de la magie,
demonstrando que aqui as leis da psicologia coletiva transgridem as leias da
psicologia individual: ‘’É uma crena que cria o mágico... e os efeitos que ele
desencadeia’’, escreveram. O uso do conceito de mana como uma idéia de magia,
alimentou uma longa controvérsia.
Mauss foi voluntário e serviu como intérprete durante a
Primeira Guerra Mundial, oq eu resultou, direta e indiretamente, nas mortes
trágicas de Durkheim e seu filho André, além de vários colaboradores do L’Année sociologique. Após a guerra,
Mauss assumiu a difícil tarefa de
substituir o tio. Tentou relançar L’
Année sociologique, mas só foram lançados dois volumes, em 1925 e 1927. Ele
também manteve sua intensa atividade política, assumindo a ediçãoi de uma
importante obra sobre o estado e, depois de publicar suas ‘’ Observations sur
La violence’’ em Vie socialiste,
planejou um livro sobre o bolchevismo. Então incentivado pelo exotismo quie
atraía um grande publico para a etnologia, Mauss trabalhou com Lucien
Lévi-Bruhl e Paul Rivet para fundar em 1923 o Instituro de Etnologia em Paris.
O instituto atraiu muitos estudantes e pesquisadores, que lideraram muitos
estudos de campos, particularmente na África, e organizaram as primeiras
expedições etnológicas importantes.
Homem de enorme curiosidade intelectual e excepcional
erudição, Mauss conduziu pesquisas em muitas áreas: da magia á técnica corporal,
passando pela idéia do indivíduo, ele retificou a atitude antipsicológica do
tio, estabelecendo relações reais e práticas entre a psicologia e a sociologia
num artigo que publicou em 1924 no Journal
de psichologie. No ano seguinte ele publicou numa série de L’
Année sociologique o seu Ensaio
sobre a Dádiva.
O sobrinho de Durkheim nunca havia se interessado tanto pela
obra sod psicólogos, e participou de projetos da Sociaedade de Psicologia, tornando-se
seu presidente em 1923. ‘’ Sociologia, psicologia, filosofia, devem todas se
combinar’’, escreveu Mauss. A intenção era tomar como tema ‘’o ser humano inteiro e real’’ e analisar ‘’
o fenômeno como um todo’’. Em 1936, mais uma vez no Journal de psychologie, ele publicou um estudo sobre o ‘’ Efeito físico no
individuo da idéia da morte sugerida pela comunidade’’. Confusão mental,
inibições, delírios e alucinações foram todos os fenômenos pelos quais Mauss se
interessou vivamente, mas que, ao contrário da opinião dos psicólogos, ele não
viu como sintomas patológicos.
Marcel Mauss foi eleito membro do Collége de France em 1930 e
tornou-se chefe de sociologia. Entre os textos que publicou durante esse
período, estão ‘’Técnicas corporais’’, publicado em 1934 no Journal de psychologie.e um ensaio sobre o
eu no no Journal of the Royal Anthropological
Institute. Em 1941, fez sua última apresentação acadêmica, que consistiu no
ensaio ‘’ Les techiniques et la
technologie’’. Marcel Mauss moreeu no dia 11 de fevereiro de 1950, aos 67
anos. Muitos de seus textos publicados como ensaios foram loligidos por Claude
Lévi- Strauss em 1950 e publicados sobre o título Sociologie
e anthropologie (Sociologia e antropologia) , e amis tarde, em 1969, Victor
Karady publicou três volumes intitulados em 1997. A obra política de Mauss consiste de um vasto
número de reflexões em que ele combinou e expressou, como reconheceu ele
próprio, o fervor do intelectual e do político. No final de A dádiva, ele já não tinha dúvidas quanto a
importância dos antigos valores morais, como a caridade, e propôs uma
moralidade baseada na solidariedade e reciprocidade.
Fonte:
Scott, John (organizador). 50 Sociólogos fundamentais. São Paulo : Contexto, 2007.