Edgar Morin
Sociólogo, C.N.R.S./França
* tradução de Juremir Machado da Silva
A inteligência parcelar,
compartimentada, mecânica, disjuntiva, reducionista, quebra o complexo do
mundo, produz fragmentos, fraciona os problemas, separa o que é ligado, uni
dimensionaliza o multidimensional. Trata-se de uma inteligência ao mesmo tempo
míope, presbita, daltônica, zarolha. Elimina na casca todas as possibilidades
de compreensão e de reflexão, matando assim todas as chances de julgamento corretivo
ou de visão a longo termo.
Quanto mais os problemas se tomam
multidimensionais, mais há incapacidade para pensar essa multidimensionalidade;
quanto mais a crise avança, mais progride a incapacidade de pensá-Ia; quanto
mais os problemas se tomam planetários, mais se tornam impensados. Incapaz de
considerar o contexto e o complexo planetário, a inteligência cega produz
inconsciência e irresponsabilidade.
Compreendemos então um problema
essencial: complementar o pensamento que separa com outro que une. Complexus
significa originariamente o que se tece junto. O pensamento complexo,
portanto, busca distinguir (mas não separar) e ligar. O
pensamento complexo é, portanto, essencialmente aquele que trata com a incerteza
e consegue conceber a organização.
Apto a unir, contratualizar,
globalizar, mas ao mesmo tempo a reconhecer o singular, o individual e o concreto.
O pensamento complexo não se reduz nem à ciência, nem à filosofia, mas permite
a comunicação entre elas, servindo-Ihes de ponte. O modo complexo de pensar não
tem utilidade somente nos problemas organizacionais, sociais e políticos, pois
um pensamento que enfrenta a incerteza pode esclarecer as estratégias no nosso
mundo incerto; o pensamento que une pode iluminar uma ética da religação ou da solidariedade. O
pensamento da complexidade temigualmente seus prolongamentos existenciais ao
postular a compreensão entre os homens.
Referência
Edgar MORIN, O Método 5 - a
humanidade da humanidade: a identidade humana. Trad. de Juremir
Machado da Silva. 2 ed. Porto Alegre: Sulina, 2003. 309 p. (La Méwthode 5 -
l'humanitéde l'humanité, Editions du Seuil, 2002)